Sonhos meus que foram teus,
Vida dividida, dor e adeus,
Que não se cura, só se descuida,
Ferida aberta, alma perdida.

Olho-te além, além-mar, além-horizonte,
Muito além do medo, da razão e do monte,
Além da filosofia, da fria poesia,
Onde o silêncio grita a agonia.

Compartilho a vida, as dores e desejos,
Segredos guardados, tormentos e ensejos,
Também a beleza que em mim se esconde,
A luz que reluz, o amor que responde.

Respiro-te nas narinas, fumaça acesa,
Fumo que arde, chama e surpresa,
Penetro em minhas entranhas a prender,
O sopro fugaz que não quer morrer.

Sonhos que fogem como desejo no vento,
Mistérios perdidos em antigo tormento,
Do reino de Hades, de Zeus ou do além,
Brisa matutina que se perde também.

Sonhos meus... sonhos teus,
Fragmentos de vida, de nós dois,
Que voam, que fogem, que se vão no ar —
Sonhos que sempre irão ficar.