Textos

ENTRE O DESEJO E O SILÊNCIO
Olhar nos teus olhos, tocar teu olhar,
ver-te tão perto, além de julgar.
Além da razão, sem medo, sem véu,
sentir tua alma — um pedaço do céu.

Sentir-te!
Contemplar tua beleza sem distração,
como quem vê, no outro, a própria emoção.

Não negaste o desejo — esse fogo voraz —
mas fui eu quem calou, por querer paz.
Tentei lutar, sufoquei o que ardia,
mas a alma, teimosa, sempre insistia.

Desespero!
É duro manter a máscara inteira,
num mundo que pesa, julga e rotula à beira.
Pedaços de mim, moldados por norma,
gestos contidos, palavras sem forma.

Um corpo que pensa, mas não sente o tanto,
que reprime o grito e cala o pranto.

Convenção social!
Palavras lançadas, sem rota ou final.
E o inconsciente, sedento, deseja voar,
romper os muros, deixar-se levar.

Quer apenas ser — sem freio ou prisão,
sem medo da sombra, sem contenção.

Por que não fiz?
Por que hesitei?
O que em mim ainda permanece e dói?
Seria o medo do sim, ou a dor do depois?

Fujo...
Para longe, onde a razão me governa,
onde a emoção, adormecida, hiberna.
Ali sou segura, mas tão incompleta,
vivo entre grades de lógica discreta.

Nos meus devaneios, por fim, repouso,
em desertos de sonhos, num mundo ocioso.
Serei eu mesma? Talvez... por um fio.
Ou só o reflexo do que desafio?

Sentir-me-ei “bem”, nessa ilusão passageira,
neste mundo sem cor, sem primavera inteira.
E, se livre enfim me encontrar no final...
Será isso o que quero?
Ou só mais um ideal?
Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 13/07/2023
Alterado em 26/05/2025
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários