Quem criou o julgamento?
Foste tu? Fui eu? Foi alguém?
Talvez todos, num só momento,
com dedos prontos, sem ver mais além.

Julgar é um espelho partido,
que reflete mais de quem vê.
E ao julgar o que é proibido,
já se julga — sem porquê.

Se pergunto por que julgamos,
já me enrosco na contradição.
Pois no fundo, ao que criticamos,
também damos nossa opinião.

É cilada da consciência,
um vício velho da razão.
Quer justiça, mas na essência,
só propaga a punição.

Talvez o ideal seja o silêncio,
um respiro entre o pensar.
Não pra calar a verdade,
mas pra melhor escutar.

Pois no silêncio há mais sentido
que em mil vozes a gritar;
nele mora o não-julgamento —
um jeito puro de amar.