CAVERNA DE PLATÃO
Vi sombras dançando na pedra fria,
teatro de engano, falsa harmonia.
Silhuetas vazias, presas no vão,
refletiam o mundo — distorcido, em vão.
Vi o riso inocente de um ser cativo,
vivendo no escuro, sem outro motivo.
Ali, tudo era eco, figura e disfarce,
ideia detida, sem forma ou enlace.
Eram almas acorrentadas à parede,
confundindo verdade com simples parede.
Alienadas, estagnadas, presas à ilusão,
sem ver que a caverna era só negação.
Utopia dos sentidos, mentira sensível,
o sensível, em Platão, é o mais volúvel.
Fantasmas projetam discursos banais,
enquanto o real habita além dos umbrais.
Mas vi além —
com olhos da mente,
atravessei a corrente,
subi o gradiente.
Na dialética, o caminho é subir,
do visível ao inteligível, resistir.
Com Sócrates ao lado e a alma inquieta,
descobri que a verdade não é tão quieta.
Percebi que as formas são mais que visão,
que justiça não nasce da simples razão.
As amarras sociais são bem arquitetadas,
por reis e senhores, por falas moldadas.
Compreendi que a caverna é também o Estado,
com leis e discursos por dentro forjados.
A política, às vezes, só quer manter
o povo nas sombras, sem perceber.
Mas há quem ouse romper o grilhão,
subir pela luz, buscar a razão.
E quem retorna, com olhos abertos,
é visto como louco — tem sonhos incertos.
Na caverna, a verdade assusta demais,
pois rompe os discursos convencionais.
O mundo sensível é representação,
mas o mundo das ideias é libertação.
E o passado, prisioneiro da opinião,
segue curvado à própria ilusão.
Mas o filósofo, mesmo em solidão,
faz da verdade sua revolução.
Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 30/05/2025