ENTRE CÉUS E ABISMOS
Quero fugir — subir, tocar o céu,
viver entre as estrelas, sem um véu...
enfim, sumir da dor que me transborda,
calar o mundo, abrir uma outra porta.
Ou talvez perto...
Deitar no chão silente, respirar
por um canudo torto, sem falar,
ou repousar em sono tão profundo
que eu me dissolva inteira neste mundo.
Quem dera — uma oração de tantas horas,
em que o pensar, em paz, me leve embora.
Que cansaço é este, meu Deus, que invade?
Que dor sem nome é esta tempestade?
Perna e joelho — em luta, em desalinho,
me arrastam pela vida, passo a passo, sozinha.
God! Please, give me back my joviality!
Mas só no corpo,
para aguentar a dor da realidade.
Quantas Ave-Marias são rezadas?
Quantos Pai-Nossos curam madrugadas?
E o pecado?
Ah... ainda me visita,
nas noites longas, nas sombras infinitas.
São os anos, minha filha, os que te marcam...
São os números, as cifras que te cercam.
Exageros, acúmulos, bagagens,
mas também — sabedoria nas passagens.
Prepara-te!
Há mais do que imaginas...
Muito mais — em vales e colinas.
A vida é longa, embora feita em brumas.
Desfruta-a como se fosse a derradeira,
com dor, sem dor, com fé ou sem bandeira.
Pois tudo segue — mesmo a contragosto,
em rios fundos,
nas margens do desgosto.
E ao mirar, de novo, o céu deserto,
percebi: tudo é breve, tudo é incerto...
como areia que escorre entre os segundos,
como ondas que morrem —
e ainda assim, fecundam.
Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 04/06/2025
Alterado em 04/06/2025